quarta-feira, 16 de setembro de 2009

The Godmakers

Planos dentro de planos, psiquismo misturado com religião, uma ordem secreta de mulheres conspirando nos mais altos escalões da política, um ar 'árabe' permeando toda a estória - Duna? Não, The Godmakers.

New English Library, (c) 1984

Escrito por Frank Herbert em 1972, sete anos depois de sua grande obra, Duna, o livro ostenta estas similaridades , levando-me a crer que, se não lhe for um tema recorrente (é o terceiro livro apenas que li de Herbert, além do já citado e de uma tentativa frustrada de ler sua primeira continuação, O Messias de Duna), talvez ele tenha sentido que não tinha dito tudo com essas fontes de inspiração.

As semelhanças, apesar de fortes, não impedem de revelar um livro de aventuras e mesmo de bom humor, algo que não sabia que Herbert era capaz - convenhamos, deve haver poucas obras mais sisudas do que Duna escritas na FC.

A estória, em um futuro distante, gira ao redor de Lewis Orne, um agente do governo galáctico, recém-saído do treinamento, a serviço de uma agência oficial que investiga o clima psicológico de mundos perdidos da grande civilização, em geral com o contato perdido após guerras civis. Orne tem excepcional habilidade, um verdadeiro faro para o assunto, nas mais tênues pistas decifrando tramas e armadilhas em mundos humanos e mesmo alienígenas.

Ao mesmo tempo, uma linha de eventos paralelos nos leva a Amel, um planeta onde todas as religiões e subsectos convivem sob a paz da Trégua Ecumênica, e os sacerdotes se empenham em uma atividade muito curiosa: a criação de um deus. Deuses não nascem, são criados, afinal de contas. E a forma de criá-los envolve todo um mumbo-jumbo místico-psíquico que os leitores de Duna já conhecem. Aliás, as notas de início de capítulo são um recurso já manjado, da mesma obra... e que funcionam muito bem também aqui, devo dizer. Mas tudo isto leva à criação de um deus, preconizado logo no início, e revelado nos episódios finais do livro.

Os desdobramentos do mumbo-jumbo talvez se devam à época em que foi escrito. Experiências sensoriais, drogas, misticismo, havia um quê a se acreditar que em algum ponto, isto tudo se conectava. É uma leitura bastante interessante, embora tenha que se prender à lógica própria do autor, para se seguir o raciocínio. E em falando de temas recorrentes do autor, política e sistemas de governo também têm seu papel no livro.

A estória tem um trecho um pouco estranho, ao meu ver: a ida ao mundo em que a conspiração de mulheres que citei lá em cima seria apresentada aos leitores, através de investigações e desdobramentos, simplesmente é substituída já pela volta do personagem, direto para a CTI, onde fica longos meses à beira da morte, após um clímax fatal envolvendo a revelação da tal conspiração. Necessidades editoriais? Falta de paciência do autor? Era para ser assim mesmo? Não sei, mas que achei estranho, sim, achei.

De resto, tem um quê de aventuras espaciais antigas, onde o papel feminino ainda consegue ser mais estereotipado do que o masculino: apesar de toda a capacidade intelectual daquela que será o amor verdadeiro do protagonista, ela praticamente só surge para disto se ter certeza e se preocupar com a saúde deste, e em seguida sair da trama.

É uma estória, no final das contas, interessante, apesar de momentos que achei irregulares. Serviu para conhecer um pouco mais da obra do autor. Na wikipedia, um brevíssimo artigo conta que este livro é uma espécie de interseção entre dois universos fictícios do personagem, o de Duna, e o da CoSentiency, de que nunca ouvi falar.

Foi uma companhia interessante.

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